GERAÇÃO FAST LOVE

GERAÇÃO FAST LOVE

Um discurso muito proferido por homens e mulheres – jovens ou não – é o quão breve e inconsistentes são seus relacionamentos afetivos e como gostariam de encontrar a pessoa ideal, aquela com a qual poderiam ter algo mais duradouro e intenso. Mas o momento vivido é de liberdade de expressão e de comunicação, os canais são vastos, a possibilidade de encontros é inesgotável e a vulnerabilidade emocional parece ter atingido a todos. Estamos diante de uma contradição?

Homens e mulheres buscam justificativas teóricas e empíricas para suas desilusões e frustrações amorosas, elas variam entre o ritmo atribulado de vida, a internet que facilita a volatibilidade, o número crescente de homossexuais, a superficialidade feminina e a super erotização masculina. Todas estas alegações e tantas outras podem ter sua validade. Os estímulos ambientais e sociais nos impulsionam muito mais ao Fast Love do que para uma relação que exija conhecimento mútuo, tolerância, respeito e renúncia de sentimentos egoístas.

Todavia, devemos considerar que tais justificativas não são as (únicas) vilãs da contemporaneidade sobre a construção dos relacionamentos: existem homens e mulheres que trazem consigo uma dificuldade fecunda de se entregar ao amor e, consequentemente, não travam intimidade com seu parceiro, muitas vezes confundida com apatia ou egoísmo, esse comportamento faz com que o outro se sinta desvalorizado e desestimulado a continuar um envolvimento.

Outro empecilho para a perenidade da união são os níveis de exigência restritos que se confundem com idealizações de amor. Desistir de algo ou alguém por ambos apresentarem um comportamento indesejado é mais comum do que percebemos, ás vezes damos grande importância a pequenos defeitos, como um nariz avantajado, enquanto camuflamos atos que podem realmente nos incomodar se realizados frequentemente, um surto de ciúmes por exemplo. Idealizações induzem às frustrações e por falta de tolerância as frustrações ditam o fim do relacionamento; muitas pessoas não conseguem levar um relacionamento adiante, pois desistem diante da menor contrariedade com uma intenção inconsciente de se proteger da auto-imagem negativa que pode surgir, haja vista o pensamento: “não são os outros que não servem pra mim, sou eu que quero demais dos outros”.

A idealização também proporciona o uso de um recurso compensatório que se baseia em investir em pessoas que aparentem ser fontes de poder e prestígio, criando assim a ilusão de estar iluminado e ser admirado por todos por ter a companhia daquela. Estas fontes podem ser representadas por posses materiais, beleza, destaque intelectual ou mesmo profissional, deseja-se, então, unir-se sempre às pessoas de prestígio que sejam valorizadas e cobiçadas para que possa se sentir superior através destas escolhas, todavia ao agir assim acaba-se responsabilizando o outro por sua felicidade e dessa forma o tempo de validade desta relação provavelmente será curto.

Mas toda relação é feita a dois e compõem um elemento de troca, um sempre alimentará a fantasia e a idealização do outro enquanto lhe for conveniente, assim como o homem não arrota na fase de conquista, a mulher não aparece sem maquiagem, mas isso não significa que ambos nunca farão o oposto, cabe aos envolvidos definir o que é relevante ou não. Marina Colassanti, em seu livro “E Por Falar Em Amor” expressa, com delicadeza e suavidade, a idealização de muitas mulheres que são alimentadas “secretamente” por muitos homens:

“Homem nenhum jamais me amou como me amaram os homens que inventei. Eles sim é que sabiam abrigar-me única e absoluta em seu peito. Eles sim é que viviam voltados para mim. E com tanta intensidade! Com quanta dedicação! Os outros? Ora, os outros eram apenas humanos.”

Como driblar esses problemas tão comuns? O primeiro e mais importante passo é a reflexão em busca do autoconhecimento, devemos assumir nossas capacidades e limitações com intenção de abrir espaço em nossas vidas para acolher o(a) parceiro(a) na sua forma original, sem a intenção de moldá-los no nosso ideal, entender que relacionamentos duradouros demandam tempo e dedicação e assim permitir a entrega para uma relação íntima e prazerosa, degustando o amor na sua plenitude e no tempo que ele merece. Sem pressa.